Galeões, Reais e Libras

Entendendo o modelo econômico do mundo mágico de Harry Potter

O primeiro livro de Harry Potter foi lançado em 1997. O último em 2007. Nesse período de dez anos, que é o mesmo tempo que George R. R. Martin leva pra escrever dois capítulos do seu novo livro (ou que eu levo pra escrever dois nRTs, mas eu não ganho pra isso), a autora britânica J. K. Rowling criou um mundo fantástico, cheio de lugares mágicos escondidos, uma história canônica bem estabelecida, raças e criaturas diferentes e até um sistema monetário próprio baseado em moedas de ouro, prata e bronze.

Envolta em polêmicas e acusada de fazer comentários transfóbicos, a autora segue mudando o Universo canônico por ela criado para viabilizar a produção de filmes bostas. Não que ela precisasse: além do patrimônio de um bilhão de dólares (sem contar a marca Harry Potter estimada em 15 bilhões), em 2018 estima-se que seu lucro tenha sido de 54 milhões[1]https://www.businessinsider.com/jk-rowling-harry-potter-net-worth-author-millions-fortune-lifestyle-2019-4, com certeza uma grande porcentagem disso proveniente da venda de varetas de madeira a preço de iphone nos parques da Universal Studios. 

Mas não são as finanças pessoais da autora a coisa mais fantástica aqui exploradas, mas sim o sistema econômico por ela criado. Não parece que J. K. Rowling tenha pensado muito no assunto, como é possível perceber pelo bizarro sistema de conversões internas que regem o sistema financeiro inteiro:

“The gold ones are Galleons,” [Hagrid] explained. “Seventeen silver Sickles to a Galleon and twenty-nine Knuts to a Sickle, it’s easy enough[2]Harry Potter e a Pedra Filosofal, Capítulo 5.

A princípio parece bem simples: uma moeda de bronze é um nuque. 29 nuques são equivalentes a um sicle. 17 sicles são equivalentes a um galeão. Logo, 493 nuques são equivalentes a um galeão[3]eu até que gostei dos nomes traduzidos das moedas. Obrigado à Marina Temple por abandonar o filho pequeno num canto pra poder confirmar para mim a tradução na coleção dela..

O fato de haver três degraus de conversão também não ajuda quem quiser pagar a passagem do ônibus com um galeão e está  esperando o troco. O cobrador já deve ter decorado a tabela (com valores aproximados):

1 Nuque1 Sicle1 Galeão
29 nuques493 knuts
0.035 sicle17 sicles
0.002 galeões0.06 galeões

Por deus, que sistema estúpido. Um sistema assim só pode ter sido desenvolvido por um bando de pessoas que ensinam Herbologia em detrimento da Matemática. Ou pelos ingleses, já que o sistema imperial deles não é muito mais inteligente do que isso[4]no qual 1 foot são 12 inches; 1 yard são 3 feet; e 1 mile são 1760 yards. Sério, qual o problema dessa galera em usar o sistema métrico?.

Outro ponto incrivelmente estúpido que merece destaque é que a escala de evolução de grandeza é baseada em números primos. Eu imagino que seja uma piada, numa espécie de humor inglês da matemática: qualquer decimal vai sempre gerar resto; e cobrar 3 galeões por duas jujubas gera valores quebrados em três tipos de moeda.

E se a gente imprimisse mais dinheiro?

Ter medidas de conversão estúpidas não limita a existência da moeda, obviamente. O dinheiro surgiu como referência para alguma coisa, não necessariamente como um valor exato. A libra esterlina, ainda usada no Reino Unido, por exemplo, é também uma medida de peso. Uma libra (ou um pound) pode ser arredondado para meio quilo e “esterlina” é um adjetivo para o grau de pureza da prata. Uma libra esterlina então seria meio quilo de prata boa. Coincidentemente esse era o valor de multa aplicado a um cidadão de Eshunna, um reino da Mesopotâmia de 4 mil anos atrás, que fosse condenado por ter mordido o nariz de outra pessoa (claro que é de outra pessoa, ele dificilmente conseguiria morder o próprio nariz). Podia se dizer então que a prata era o lastro da libra, o material ao qual o dinheiro tirava o seu valor. Assim, uma economia rica possuía um estoque de prata maior e tudo era mais simples[5]informações tiradas do livro Crash – uma breve história da economia, de Alexandre Versignassi.

Um lastro precisava ter duas características: Ser uma coisa que todo mundo queira e não ser muito abundante (senão não valeria nada). Já foram usados como lastros de moeda ouro, prata e sal (daí que vem o nome salário, inclusive).

Para a concepção do texto e das teorias aqui apresentadas, algumas suposições devem ser assumidas: o dinheiro não é feito do metal puro e a moeda não possui lastro. Adotar conceitos tão essenciais logo no início das teorias não é recomendável, afinal todo o resto há de ser embasado nesses fundamentos; porém após reler os sete livros e grifar todas as menções financeiras que encontrei[6]eu me dedico muito às coisas erradas, não foi possível chegar a conclusões assertivas – e a J.K. Rowling não responde meus tweets; a rede social dela parece estar bem movimentada ultimamente com outras polêmicas.

A refutação à idéia de que a moeda do mundo de Harry Potter seria produzida de metais preciosos vêm de conclusões tomadas baseando-se apenas na explicação de Hagrid acima colocada. Há pouco detalhamento do dinheiro usado[7]uma das descrições mais marcantes é no livro “…e a Ordem da Fênix”, onde é dito que Hannah Abbott’s eyes were as round as Galleons, mas se referir às moedas como “gold ones” não necessariamente indica que elas sejam feitas de ouro. “Gold e golden são usados intercambiavelmente”, diz a professora de inglês Renata Ungaretti. “As moedas de ouro de antigamente não eram todas de ouro, mas continham o metal. Então, quando se fala de dinheiro, gold pode ser tanto ‘feito de ouro’ quanto ‘banhado’, ‘com um tanto de’ ou algo assim.”[8]Valeu, Rê!. Na prática, gold é um substantivo e golden um adjetivo, mas quando se fala do dinheiro, ambas as formas são aceitas.

Isso elimina o plano genial criado por Harry Potter-Evans-Verres no spin-off-universo-alternativo Harry Potter and the methods of rationality. No livro, Petúnia, tia de Harry, se casou com um professor de Oxford. Assim, ao invés de ser criado por tios abusivos, Harry tem uma criação exemplar, com conceitos de ciência e raciocínio lógico sendo aplicados desde sua infância[9]sério, é muito bom: http://www.hpmor.com/. No quarto capítulo, ao descobrir a existência das moedas de metal precioso e saber de seu sistema de conversão, Harry Potter-Evans-Verres conclui que, toda vez que a relação entre ouro e prata atingir determinado valor, seria possível derreter suas moedas do mundo mágico, fazer a troca e converter o metal de volta nas forjas de Gringotts, gerando assim dinheiro de graça.

Quanto ao lastro, se pensarmos em um elemento normalmente usado para a função como o ouro, ele não faria sentido dentro do mundo de Harry Potter por conta da existência da Pedra Filosofal, que permitiria transformar qualquer metal em ouro. Com a abundância do metal, viria a hiperinflação e a derrocada da economia.

Em “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, uma nave cai em um planeta primitivo e a tripulação decide usar as folhas de árvores como moeda para a comercialização dos amendoins da nave. Com todo mundo imediatamente rico, o valor de um único amendoinzinho passou a ser praticamente uma floresta inteira. Essa história, que eu li nos meus 12 anos, explicou da forma mais didática possível o conceito de inflação: para voltar a recuperar o valor da moeda, os novos habitantes decidem queimar todas as florestas do planeta.

Essa hiperinflação voltou a ocorrer algumas vezes na história: governos imprimem mais dinheiro do que sua economia permite e a confiança naquela moeda se perde. Se uma nota não vale mais o meio quilo de prata boa que promete, ela perde valor. Quanto mais moeda em circulação, menos ela vale e mais notas são necessárias para comprar o mesmo produto.

Hoje em dia dificilmente alguma moeda possuí lastro. O Plano Real foi criado com a idéia de ter o dólar como lastro (lembra da época que um real era igual a um dólar?), mas em alguma curva de algum corredor do Ministério da Fazenda essa idéia foi abandonada. As moedas hoje seguem como “lastro” (ênfase nas aspas) a confiança de que o governo que as emite não vai quebrar. Soa aterrorizante concluir que a base de todo o capitalismo é “confiança”, parece aquelas histórias da Disney que o segredo para a vitória era só “amor”.

E eu não vou nem me atrever a citar o bitcoin, cuja base é o blockchain, porque honestamente essa é uma moeda mais mágica que qualquer galeão já pensou em ser.

Escape from Gringotts

Dentro do mundo mágico de Harry Potter, pelo menos, não parece haver um ministério da economia. O Ministério da Magia parece ocupado demais em definir regulamentos para a espessura do fundo de caldeirões para se preocupar com detalhes tão insignificantes quanto o funcionamento econômico de bruxos. Assim, todo o controle financeiro é feito pelos goblins de Gringotts, o único banco do mundo mágico. A cunhagem de moedas e controle de dinheiro em circulação aparenta ficar toda na mão dos goblins, uma raça desconfiada de todo mundo (eu também seria se tivesse o trabalho deles) e que claramente herdam as funções gerenciais entre si, em um esquema obviamente nepotista.

Para um grupo tão intrinsecamente relacionado com finanças, a forma como eles lidam com o dinheiro soa arcaica. O Banco Central mágico, representado pela imponência de Gringotts, funciona basicamente como uma série de cofres subterrâneos ligados por trilhos. Não à toa que foi criada uma montanha russa com essa premissa – ler o livro já passa essa idéia. Os cofres pertencem aos clientes que armazenam eles mesmos o dinheiro lá. É plausível presumir que parte do lucro de Gringotts venha do aluguel dos cofres, já que o banco não aparenta ter acesso às economias de seus clientes.

Isso é uma diferença crucial no formato das instituições financeiras dos trouxas e dos bruxos: nossos bancos usam e abusam do pobre dinheirinho suado de seus clientes. O dinheiro que você manda pro Itaú, por exemplo, é usado para o banco fazer empréstimos e/ou investimentos internos, que resultam em um rendimento. Uma mísera porcentagem desse rendimento é depositada na conta dos clientes que tiveram seu dinheiro usado nessas transações, como um incentivo a manter a conta bem abastecida na instituição (não é nenhum peso moral, banco não tem dessas coisas).

Gringotts não se permite fazer tais investimentos com dinheiro alheio. É também correto assumir que o dinheiro dos clientes não rende. Por conta da inflação, então, com o decorrer dos anos, todo mundo acaba perdendo dinheiro nessa brincadeira. É de se esperar que a inflação também ocorra no mundo mágico, como em toda economia em crescimento – e não há razões para duvidar que existe crescimento econômico também: a própria história apresenta um exemplo empreendedor dos irmãos Fred e George que no decorrer dos livros inauguram uma franquia de sucesso.

Harry Potter, aliás, se apresenta como o melhor economista dos livros ao preferir investir o seu dinheiro no negócio dos amigos do que deixá-lo parado nos cofres de Gringotts. Não que o fator econômico seja amplamente explorado: raramente personagens estão manuseando dinheiro, apesar da preocupação financeira existir. Dinheiro é um problema e tê-lo ou não tê-lo faz parte das características de diversos personagens: a família Weasley é notoriamente pobre enquanto Potter e os Malfoy são evidentemente ricos – e a dinâmica entre as riquezas dos personagens é amplamente explorada em pontos cruciais no decorrer dos livros. Mas ele sempre aparece em sua forma física e não parece existir “dinheiro virtual” – somente as fatídicas moedas estão circulando, entrando e saindo de bolsinhas de dinheiro.

A importância econômica, aliada à anarquia de controle governamental sobre o dinheiro criam um cenário quase apocalíptico: sem fontes oficiais para empréstimos (já que Gringotts dificilmente conseguiria suprir capital necessário para a atividade), fatalmente o mundo estaria repleto de agiotas (ou, no caso dos magos, Magiotas[10]dsclp). Certamente também não é cobrado imposto de renda, afinal, o controle sobre a riqueza de cada cidadão é nulo. O crime organizado encontra aí um ambiente próspero para crescer – e não há motivos para acreditar que ele não exista no mundo mágico, uma vez que há bruxos maus e diversas infrações como falsificações e roubos (até mesmo a Hermione falsifica dinheiro em determinada altura da história). Deve haver muito trabalho para um “auror” rastrear operações ilícitas ou de um funcionário conseguir reembolso de suas despesas, dada a ausência de cartões corporativos e notas fiscais.

A lavagem de dinheiro também deveria rolar solta naqueles pubs de Hogsmeade, se não fosse um pequeno detalhe: com a ausência de controle econômico governamental, não existem motivos para se lavar dinheiro no mundo mágico. É um problema a menos para se preocupar.

Mas também é difícil acreditar que um sistema tão rico e bagunçado não tenha interferências nas economias externas. O mundo mágico é camuflado e reservado, de acordo com a história, para a proteção dos próprios bruxos; mas também é plausível que ele assim o seja para a proteção dos trouxas, que veriam a derrocada de suas economias com a inclusão de uma bagunça tão grande no já complicadíssimo sistema financeiro em que vivemos.

Uma relação entre os dois mundos é inevitável: no segundo livro da série (“…e a Câmara Secreta”), os pais de Hermione, trouxas que são, vão ao beco diagonal para trocar libras por galeões, deixando claro que existe um sistema de conversão.

E, se existe um sistema conversão, então dá pra criar uma calculadora para isso.

Salvo pela cerveja

O valor de uma moeda é flutuante e definido basicamente no esquema oferta-demanda: Se há muita confiança na economia de um país, é natural que investidores queiram fazer negócios nele, usando assim a moeda local. Aumenta a procura, aumenta o preço. A economia depende da produção e vice-versa.

Como calcular então o valor de uma moeda fictícia, quando é impossível definir essa relação de oferta-demanda?

Uma das formas é pegar um item em comum e analisar o preço desse item em ambas as economias. É o princípio da Purchasing Power Party (PPP), uma teoria séria da economia. É nele que se baseia o Big Mac Index[11]último relatório aqui: https://www.economist.com/news/2020/07/15/the-big-mac-index, criado pela revista The Economist em 1986, que compara o preço do Big Mac em diversos países como uma forma de analisar suas economias. Basta então escolher um item que saibamos o preço nos livros e na moeda corrente e usar essa teoria para criar uma fórmula de conversão.

A boa notícia é que em diversos momentos do livro, os preços de produtos são anunciados. A má notícia é que nunca é o quilo do arroz. A gente sabe, por exemplo, o valor de um fígado de dragão (16 sickles per ounce, o que dá 33 galeões, 2 sicles e 25 nuques por quilo, na primeira matemática sem sentido que você vai encontrar neste texto, PF[12]pra não ficar me repetindo toda hora, vou abreviar o títulos dos livros: PF = Pedra Filosofal, CS = Câmara Secreta, PA = Prisioneiro de Azkaban, CF = Cálice de Fogo, OF = Ordem da Fênix, EP = Enigma do Príncipe, RM = Relíquias da Morte, BS = Bíblia Sagrada, KS = Kama Sutra e SdA = Sociedade do Anel), um chifre de unicórnio (21 galeões, PF), uma multa por andar por aí em um carro voador (50 galeões, CS), uma armadura feita por goblins (500 galeões, EP) ou um medalhão amaldiçoado (1500 galeões, EP). Porém nada disso nos ajuda nos cálculos, já que não é em qualquer esquina que se encontra um chifre de unicórnio e a gente ainda vai ter que esperar algumas décadas para descobrir o valor das multas para carros voadores.

Mas, dentre os itens apresentados na saga, há um que ultrapassa as margens das páginas. Sabemos, graças ao livro “…e a Ordem da Fênix” que Harry Potter pagou 6 sicles por 3 Butterbeer™[13]ele comprou 3 cervejas para distribuir pros amigos, fica a dica no Hog’s Head™, que é exatamente o mesmo pub existente no parque da Universal Studios™. O produto é o mesmo e o lugar é o mesmo; para a conversão ser feita de acordo com o princípio da PPP, só falta mesmo acertar o detalhe da data: os livros de Harry Potter se passam entre os anos de 1991 a 1998[14]com exceção do primeiro e último capítulos, eu sei…, assim “…a Ordem da Fênix” se passa durante o ano de 1995.

A data é importante porque, qualquer cidadão que já pagou R$1 num pacote de Trakinas de 200g cheio de deliciosa gordura trans sabe que os produtos tendem a ficar mais caros com o tempo. Em 1995, um Big Mac custava R$2,75. Não é só a inflação que dita o aumento dos preços dos produtos, mas é também o índice de poder de compra (CPI[15]consumer price index).

Quem quiser tomar uma Butterbeer™ hoje vai pagar US$7,99. Esse valor é um absurdo. No dia 18 de junho de 2010, na época de abertura de Hogsmead™, na Universal Studios™, uma Butterbeer™ custava US$2,99. Se o preço tivesse seguido de acordo com o índice de poder de compra norte-americano, uma Butterbeer™ não deveria custar mais do que 4 dólares [16]https://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm. Esse aumento abusivo impede que façamos as contas retroativas para descobrir o preço do produto há 25 anos atrás.

O rídiculo aumento deve ser então explicado pela lei da oferta e da procura: como tem um monte de trouxa querendo tomar sorvete derretido de baunilha a preço de lagosta, é natural que o capitalismo prevaleça e o parque suba o preço para testar o limite de gastos dos cidadãos e dos engenheiros civis. Mas, para chegar aos valores passados e obter a fórmula de conversão da moeda, o mais sábio a fazer talvez seja ignorar a interferência da indústria de entretenimento americana e considerar o valor da Butterbeer™ antes de virar artigo de luxo, assumindo o preço que ela tinha durante a abertura de Hogsmead™. Temos então em junho de 2010 o valor de $2,99 dólares. Isso seria o equivalente a £2,02, de acordo com as cotações dólar-libra do mesmo dia[17]https://www.poundsterlinglive.com/bank-of-england-spot/historical-spot-exchange-rates/gbp/USD-to-GBP-2010. Usando uma calculadora marota para descobrir o poder de compra de duas libras em 1995[18]https://www.officialdata.org/uk/inflation/2010?endYear=1995&amount=2.02, chegamos ao valor de £1,35 por cada Butterbeer™ comprada pelo bruxo[19]não o Ronaldinho Gaúcho™, o outro bruxo. Sendo assim, em 1995 um sicle equivalia a £0,675.

A calculadora mais simples possível seria essa:

[Link se o frame cair]

O conhecido monstro da inflação

Em 1995, a cotação libra-real era bem mais amigável: R$1,47 equivaliam a £1[20][22]https://www.wizardingworld.com/writing-by-jk-rowling/rappaports-law-en, considerado o blog canônico, ela cita o dragot como a moeda usada pelos bruxos nos Estados Unidos[23](“the Dragot is the American wizarding currency and the Keeper of Dragots, as the title implies, is roughly equivalent to the Secretary of the Treasury”). Provavelmente cada economia segue uma própria ordem monetária de acordo com o país que está contida – e a cotação de dragots para galeões deve seguir a mesma proporção da conversão de dólares para libras – a qual eu não vou calcular aqui porque vai envelhecer muito rápido e porque tem cálculos mais interessantes a serem examinados.

Nos cálculos adotados, a inflação existe, mas a taxa de conversão entre as moedas se mantém. Um galeão vai ser o equivalente a £11.34 tanto em 1995 quanto em 2020. A diferença é que quando o cálculo é feito no passado, atualizamos os valores para o ano corrente seguindo a função:

var currentYear = 2020;
function inflationCalculator (val, year) {
	let inflation = 5; // 
	let newValue = val + (val * inflation / 100);
	if( year == currentYear ) return newValue;
	return inflationCalculator(newValue, year+1);
}

O valor anual de inflação nesta fórmula está fixo em 5 porcento. Evidentemente que no código final eu optei por ser desnecessariamente acurado e uso uma tabela com os valores anuais de inflação para ajustar a subida de preço. Pela primeira vez eu também agradeço ao Reino Unido por não ter adotado o euro. A moeda surgiu em 1999 e deus me livre fazer esse monte de conta colocando aí no meio uma troca de moeda.

Se a Universal elevasse o preço da Butterbeer™ de acordo com a inflação britânica, ela deveria custar hoje cerca de US$ 3,50. Isso é o equivalente a aproximadamente 4 sicles. Também vai de encontro com nossa predição em alguns parágrafos acima. Entre 1995 e 2020 portanto, não é difícil acreditar que uma Butterbeer™ tenha dobrado de preço. E esse é o grande problema de deixar o dinheiro guardado em um cofre nos calabouços de um banco, sem que ele esteja rendendo: ao retirá-lo de lá, o poder de compra dele é muito menor. Os bruxos perdem dinheiro sem fazer nada.

Em 1994, no livro “…o Cálice de Fogo”, Harry Potter ganha um prêmio de 1000 galeões em um torneio. Na época isso era o equivalente a £11.399,00. Corrigindo o valor pela inflação, seria o equivalente hoje a £23.430,88. Na época, Harry Potter foi ousado e astuto e investiu o dinheiro todo no negócio dos irmãos Fred e George Weasley, que estavam abrindo uma loja de traquinagens. Pelas visitas feitas ao parque da Universal, o negócio foi um sucesso e certamente o investimento feito já rendeu mais do que isso. Se, ao invés da aplicação, Potter tivesse guardado o dinheiro em seu cofre de Gringots, ele ainda teria apenas os £11.399,00. Harry, além de tudo, é o melhor economista do Mundo Mágico.

A calculadora

A versão final da calculadora (disponível aqui) usa os anos dos livros para corrigir os valores de acordo com a inflação. Também aproveitei para facilitar a vida dos leitores e incluí os preços de uma cacetada de produtos que são citados no livro.

[Link se o frame cair]

Foi possível descobrir que o ônibus que Harry pegou no “…o Prisioneiro de Azkaban” custou na época cerca de £7,50 e uma varinha mágica custou na época quase £80. Por isso Rony insistiu tanto em usar a sua quebrada, esse negócio é caro.

E, a conclusão final é que eu certamente pagaria cerca de 300 reais em um chapéu sumidor de cabeça. Imagina o sucesso que eu não faria com as menininhas com um desses?

Fontes e referências

Fontes e referências
1 https://www.businessinsider.com/jk-rowling-harry-potter-net-worth-author-millions-fortune-lifestyle-2019-4
2 Harry Potter e a Pedra Filosofal, Capítulo 5
3 eu até que gostei dos nomes traduzidos das moedas. Obrigado à Marina Temple por abandonar o filho pequeno num canto pra poder confirmar para mim a tradução na coleção dela.
4 no qual 1 foot são 12 inches; 1 yard são 3 feet; e 1 mile são 1760 yards. Sério, qual o problema dessa galera em usar o sistema métrico?
5 informações tiradas do livro Crash – uma breve história da economia, de Alexandre Versignassi
6 eu me dedico muito às coisas erradas
7 uma das descrições mais marcantes é no livro “…e a Ordem da Fênix”, onde é dito que Hannah Abbott’s eyes were as round as Galleons
8 Valeu, Rê!
9 sério, é muito bom: http://www.hpmor.com/
10 dsclp
11 último relatório aqui: https://www.economist.com/news/2020/07/15/the-big-mac-index
12 pra não ficar me repetindo toda hora, vou abreviar o títulos dos livros: PF = Pedra Filosofal, CS = Câmara Secreta, PA = Prisioneiro de Azkaban, CF = Cálice de Fogo, OF = Ordem da Fênix, EP = Enigma do Príncipe, RM = Relíquias da Morte, BS = Bíblia Sagrada, KS = Kama Sutra e SdA = Sociedade do Anel
13 ele comprou 3 cervejas para distribuir pros amigos, fica a dica
14 com exceção do primeiro e último capítulos, eu sei…
15 consumer price index
16 https://www.bls.gov/data/inflation_calculator.htm
17 https://www.poundsterlinglive.com/bank-of-england-spot/historical-spot-exchange-rates/gbp/USD-to-GBP-2010
18 https://www.officialdata.org/uk/inflation/2010?endYear=1995&amount=2.02
19 não o Ronaldinho Gaúcho™, o outro bruxo
20 21 os bruxos são afetados pelo Brexit? Veremos no próximo nRT…
22 https://www.wizardingworld.com/writing-by-jk-rowling/rappaports-law-en
23 (“the Dragot is the American wizarding currency and the Keeper of Dragots, as the title implies, is roughly equivalent to the Secretary of the Treasury”)