A ocidentalização do Islam
Em 2015 cerca de um milhão de refugiados chegaram à Europa.
Ajudar refugiados de guerra parece a coisa mais correta e humana a se fazer. São pessoas que perderam suas casas, seus trabalhos, amigos, parentes… Diversos países da Europa, tendo estado do outro lado da balança há menos de 100 anos, abriram suas portas. Oras, se formos pensar, o Brasil só é o país multi-cultural de hoje graças à chegada de refugiados e famílias fugindo das duas Grande Guerras, criando suas fortes comunidades italianas, japonesas, alemãs; enchendo a Mooca de Cantina, a Liberdade de sushis e o sul do país de modelos e boas cervejas. Até o doner kebab, o mundialmente conhecida lanche turco não é turco, mas originalmente alemão, criado por um imigrante que adaptou a receita ao gosto europeu. Então a lógica mais óbvia é que essa integração toda só pode ser saudável para todos os lados, certo?
Não é essa a teoria de alguns…
Pelo menos 1/3 dos refugiados vinham da Síria, onde grupos islâmicos extremistas tomaram o poder e tocavam o terror na galera. Cerca de 70% são muçulmanos. E seriam esses supostos religiosos fervorosos uma peça fundamental num plano milenar de dominação mundial composto pelas mentes mais maravilhosas e maléficas do planeta. E que estaria começando agora, com a islamização da Europa.[1]Dados de refugiados de 2015, do jornal inglês Independent, catalogados e linkados à UNHCR (http://data2.unhcr.org/en/situations e http://www.unhcr.org/)
A nova ordem mundial
Conheço Arnaldo Zonaro[2]O nome foi alterado, mas o cara existe de verdade. da época da faculdade. Sempre foi um cara quieto, na dele, jogando seu game boy de boas nas aulas de autômatos. Quando o Brexit foi aprovado, ele reagiu de forma mais exaltada a alguma piada postada por mim no Facebook.
Eu já sabia o posicionamento extremista de Zonaro. Ele sempre fez questão de se mostrar a favor de Donald Trump, arduamente contra estrangeiros ou imigrantes (refugiados então seriam o ponto mais baixo da escória da humanidade) e nutria um ódio particularmente pesado contra islâmicos.
Normalmente, o cidadão médio o ignoraria ou o xingaria por ter um pensamento diferente do seu (e portanto, errado). Ainda mais em uma questão que pra mim soa tão óbvia quanto a danosidade da medida ao Reino Unido. Porém, eu me dediquei a entender profundamente o ponto de vista de Arnaldo. Nos próximos meses, eu troquei com ele diversas mensagens, vi vídeos, li artigos e me esforcei o máximo para entender a lógica de Zonaro.
A base do pensamento é em um negócio chamado Nova Ordem Mundial, um grupo poderoso que busca o domínio do mundo. De acordo com a teoria, a União Européia seria um sandbox, um teste pra ver se o negócio funcionaria mesmo, em um plano que já está em prática há quase 100 anos e que seria concretizado no próximo século. Sim, há pessoas que acreditam que nós, meros seres humanos que mal conseguem organizar uma Copa do Mundo em tempo hábil, teríamos o discernimento e a mente evoluída o bastante a ponto de criar um plano de 200 anos para a dominação do mundo. Parte desse plano envolveria a islamização da Europa, desencadeada por uma guerra fictícia no Oriente Médio – que seria o gatilho para a destruição total da “cultura ocidental”.
Eu honestamente nunca entendi o plano completo. Em um determinado momento, cansado de minhas perguntas e contradições encontradas em sua teoria, Zonaro me bloqueou. Antes disso, porém, ele apontou diversas evidências de como o islamismo está dominando o Velho Continente e como toda a Alemanha deixará de beber cerveja e se curvará para Meca nos próximos 50 anos.
Para tentar comprovar essa dominação iminente, Zonaro me atirou na fuça fatos supostamente relacionados, como o fato de Muhammad ser o nome de bebê mais popular em Londres em 2015[3]http://www.standard.co.uk/news/london/revealed-the-most-popular-name-for-baby-boys-in-london-according-to-official-data-a2871406.html (apesar de Oliver ter a vantagem no resto do Reino Unido, comprovando a popularidade do Teste de Fidelidade de João Kléber) ou o surgimento (óbvio, dada a quantidade de imigrantes) de diversos bairros muçulmanos nas principais cidades européias.
Depois de ler alguns artigos sobre “Como a Europa está se tornando a Eurabia”, resolvi calcular efetivamente: quantos imigrantes seriam necessários para islamizar a Europa?
O processo
A porcentagem islâmica da Europa hoje é de aproximadamente 6%. Em um pensamento mais extremista, para uma islamização completa, a ordem parece fazer essa porcentagem beirar os 100%. Entretanto, como parece óbvio, essa é uma meta um tanto utópica. Qual porcentagem deveríamos mirar para uma islamização eficiente? 70%? 50%?
Em 1933, quando o nazismo tomou o poder na Alemanha, ele era apoiado por 33% das pessoas. Sim, Hitler chegou ao poder mesmo tendo 67% da população contra ele. Consigo imaginar os “Primeiramente, Fora Hitler” escritos nos muros dos palácios.
33% parece uma meta razoável e certamente possível de ser alcançada: temos hoje na Europa 76,2% de cristãos, dos quais 48% são identificados como católicos. Isso dá uma estatística bruta de 36,4% de católicos do total da população, então a meta de 33% parece perfeitamente aceitável para uma islamização eficiente.
Com uma população de 743,1 milhões de pessoas, a matemática aponta 44,58 milhões de muçulmanos. Se toda a população da Síria migrasse para a Europa (22,85 milhões de pessoas em 2013) e, considerando que a Síria fosse completamente islâmica, isso seria suficiente para aumentar o percentual muçulmano da Europa a 8,8%[4]67,43 milhões de islâmicos em uma população de 765,95 milhões de pessoas. Um acréscimo relativamente significativo, mas ainda extremamente distante da temida islamização.
A teoria, porém, vai mais a fundo. O processo de dominação muçulmana se daria não somente pela “invasão” de refugiados, mas pela dominação das próximas gerações. A população européia estaria em declínio. O dado estatístico mais aceitável para apontar isso é a “taxa de fertilidade”: a quantidade de nascimentos por indivíduo do sexo feminino em um determinado grupo demográfico. Se a taxa de fertilidade é de cerca de 2.1, o grupo estaria em equilíbrio (uma vez que para cada nascimento ainda precisamos de uma mulher e um homem – e um pouco maior pra compensar a mortalidade infantil). Qualquer coisa abaixo disso significa que, em média, dois cidadãos geram menos de duas crianças e a população estaria em declínio. Em 2006, a taxa de fertilidade no Brasil era de 2.0. Em 2011, já era de 1.8. Com exceção do Mr. Catra (que possui uma taxa de fertilidade de 32.0), a população brasileira também está em declínio.
Em 2014, a taxa de fertilidade da União Européia era de 1.58. Portugal era a menor, com 1.23 e França a maior, com meros 2.01[5]https://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_the_European_Union#Population_shifts. Mídias mais extremistas apontam que uma taxa menor de 1.8 é irreversível e pode destruir a população. O Japão, entretanto, está abaixo dessa taxa desde a década de 70 e o que mais se viu no mundo ano passado foram Pokemons.
Já as taxas de fertilidade islâmicas são consideravelmente maiores: podem chegar a 5.6 na África sub-saariana, mas mantém uma média de 3.1 no mundo[6]http://www.pewresearch.org/fact-tank/2015/04/23/why-muslims-are-the-worlds-fastest-growing-religious-group/ft_15-04-23_muslimfertility/. Oras, se a cada criança européia nascida, surgirem dois pequenos Mohammeds, evidentemente que é questão de tempo até estarmos todos virados pra Meca.
Quanto tempo?
Mantidas as taxas de fertilidade atuais e considerando a imigração completa de toda a população da Síria e sendo uma imigração 100% muçulmana, a islamização aconteceria por volta de 2080.
População Europa |
População Islâmica |
Hoje |
765.95 |
67.43 |
8.80% |
2050 |
605.1005 |
104.5165 |
17.27% |
2080 |
478.029395 |
162.000575 |
33.89% |
2110 |
377.6432221 |
251.1008913 |
66.49% |
|
Mas mesmo se o absurdo aumento de migração especulado não ocorrer e a demografia da Europa se manter nos níveis atuais, a islamização aconteceria da mesma forma:
População Europa | População Islâmica |
Hoje |
743.1 |
44.58 |
6.00% |
2050 |
587.049 |
69.099 |
11.77% |
2080 |
463.76871 |
107.10345 |
23.09% |
2110 |
366.3772809 |
166.0103475 |
45.31% |
|
A estatística taí: a islamização existe. Trump está certo. Zonaro tem razão em me bloquear do Facebook por contestar o óbvio. Vamos todos usar burcas.
Louvado seja o bacon
Ehmad[7]Outro nome que foi alterado (não sei porquê, afinal o cara não vai ler isso) é egípcio. Ele chegou em Berlim dois meses antes de mim, para trabalharmos na mesma empresa. Ele tomou sua primeira cerveja na semana que eu cheguei. Algumas semanas depois, durante um almoço, ele compartilhou que sua religião não permitia comer porco, então ele não tinha nem vontade de experimentar.
“Ehmad… essa lingüiça que você está comendo… é porco.”
Uma expressão simultânea de pavor e aceitação dominou seu redondo rosto árabe.
“Well… it’s not so bad!“, disse ele.
Nos próximos meses, ele se tornaria um entusiasta da louca vida noturna berlinense, virando noites em raves e nightclubs, enfrentando ressacas – ele até solicitou que trocassem seu horário, trabalhando aos sábados e tirando folga às segundas, de forma que não teria que trabalhar com a terrível ressaca das baladas de domingos inteiros.
No meio deste ano, Ehmad avisou que estaria parando de beber.
“Eu não fico bem quando eu bebo, então estou parando com o álcool. Vou ficar só nas drogas ilícitas a partir de agora.”
Ehmad não segue mais o Quorão. Ele abandonou de vez o islamismo.
Muitas pessoas falam na Islamização do ocidente, mas é fácil pensar nas tentações que os imigrantes árabes encontram quando deixam suas terras e vidas que sempre foram fortemente baseadas na religião: decotes tentadores, cervejas européias, festas regadas à álcool, McDonalds e o cheiro de delicioso bacon invadindo narinas de transeuntes famintos.
O contexto aonde os imigrantes viviam era completamente diferente do que eles acabam por encontrar na Europa. Muitos seguiam as regras islâmicas, menos por uma questão de crença e mais por uma questão política e social. São tão islâmicos quanto o Habib’s é um restaurante árabe. A dificuldade em abandonar a religião em um país extremista não existe quando eles chegam na Europa – e muitos realmente a abandonam.
A lei islâmica condena à morte um muçulmano que abandona a religião. O paradoxo é que uma vez que ele abandona a religião, não precisa mais seguir seus preceitos, então a auto-condenação deixa de ser necessária.
Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 32% das pessoas criadas no islamismo abandonem a religião na idade adulta[8]General Social Survey –http://gss.norc.org/. O enfraquecimento da religião parece seguir o mesmo caminho na Europa. Ex-muçulmanos possuem até uma organização[9]http://ex-muslim.org.uk/ para se ajudarem no Reino Unido e igrejas cristãs dos países que receberam mais refugiados estão relatando um substancial aumento de fiéis, inclusive com a necessidade de realizarem batismos em massa[10]http://www.stern.de/panorama/gesellschaft/massentaufen–fluechtlinge-konvertieren-vom-islam-zum-christentum-6837644.html (cuidado: alemão).
Não só o abandono religioso está sendo deixado fora da equação, mas a tabela espera que a taxa de fertilidade islâmica permaneça a mesma. Ao redor do mundo a quantidade média de crianças por família islâmica caiu de 4.3 em 1995 para 2.9 em 2010 e a tendência é que siga em declínio. Entre as famílias que chegam na Europa, essa taxa cai mais rápido[11]dados por Doug Sanders, autor de The Myth of the Muslim Tide: Do Immigrants Threaten the West?
https://www.amazon.com/The-Myth-Muslim-Tide-Immigrants/dp/0307951170
. É uma tendência evidente de famílias terem menos filhos conforme consigam uma melhor condição social.
A expectativa real ainda é de um aumento do islamismo, mas a previsão para 2050 é que o islamismo atinja somente cerca de 10% da Europa[12]http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/11518702/Mapped-What-the-worlds-religious-landscape-will-look-like-in-2050.html. Isso também se eles pararem de sair se explodindo por aí.
Nova teoria
É por isso que acredito que um plano tão demorado, rebuscado e complexo não pode ter sido organizado propositalmente pela mesma espécie que acha que no Japão um professor não se curva ao imperador. Se a islamização realmente for uma idéia estruturada do jeito que algumas pessoas acreditam, ela deve ter uma razão a mais. E quem se beneficiaria pela islamização?
Sim: porcos. Depois do fracasso de 1930 em fazer os judeus conquistarem a Europa, eles elaboraram um novo plano de dominação envolvendo outra religião que lhes fosse vantajosa, buscando o mesmo sucesso que os bovinos tiveram com o hinduísmo na Índia. Assim, a islamização seria um gigantesco plano suíno para preservar a própria espécie.
Talvez, afinal, a realidade seja menos Admirável mundo novo e mais Revolução dos Bichos. Se islamização existe, é isso que eu escolho acreditar.
Mas, qualquer uma das hipóteses, a islamização não deve amedrontar a ninguém. Talvez a maior ameaça ao islamismo não seja política ou forças armadas, mas bacon e cerveja.
Mecenas
Pew Research
Kurzgesagt
Fontes e referências